terça-feira, 21 de outubro de 2014

de quando em quando

era só ausência
caminho de se andar só
de olhar e confirmar
sentir respirar
de quando em sempre
era só.

terça-feira, 22 de junho de 2010

sobre o escrever

porque escrever é gastar a dor

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

eu sinto sim

ah, eu sinto sim
sinto falta
do teu hálito que me cabia e enchia por dentro
do teu olhar triste, distante que dizia
do teu tocar que aprofundou a dor
mar de palavras sem fim
ah, eu sinto sim
sinto a falta do que foi
do que fui quando por um segundo deixei de ser

domingo, 20 de dezembro de 2009

excessos

meu coração quando só
sofre de 'ritmia'

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

do que não cessa

depois que a gente vê o mar
desengata uma saudade no peito
mar é que nem amor
abre uma ferida que não fecha

sábado, 24 de outubro de 2009

a passar

a gente reinventa,
como o vento,
a gente aprende a passar.

domingo, 4 de outubro de 2009

algum sonho

ah, pés meus, entortam procurando rumos.
pobre deles, têm sonho de liberdade.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

... de ser

algumas pessoas são imensamente lindas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

outro dia

quando chorar, chore baixinho
feche as portas, esqueça o chão
caia para dentro em febre
deixe-se esquecer outro dia

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

mais que o ar

moça, não fuja porque sou triste
nem porque às vezes o mundo pesa
e os ombros mal conseguem suportar

desaprendi um tanto da vida, moça
esqueci os caminhos
esqueci o que não se deve esquecer

fuja porque me pinta assim, dessa forma
tão estreita
de olhos fechados
imaginando que sou outro

no meio da noite, fuja
mas pela porta da frente
a que você abriu e esqueceu de fechar

mas antes, moça, me olhe cá dentro
que vazio inteiro é grande
e pesa bem mais que o ar

terça-feira, 4 de agosto de 2009

minha casa

onde moro há sempre tantos
olhos bocas caminhos
difícil é habitar-me
saber não ter posse de mim mesmo

sábado, 1 de agosto de 2009

desse jeito

é sempre desse jeito
quando a palavra se cansa de mim
me tira mundos lápis e papeis
na mão fica nada
no rosto nem traços
até o sorriso da moça que roubei na janela
no dia de chuva
a danada me tira

domingo, 21 de junho de 2009

para os dias assim assim

há sempre uma janela ou outra
por onde o sol há de entrar

sexta-feira, 5 de junho de 2009

resiliência

é que às vezes emprestamos nossa força para quem precisa
e demora um pouquinho de tempo até voltarmos ao normal

sexta-feira, 29 de maio de 2009

bicho esquisito

a alegria é um bicho um tanto esquisito mesmo, conversa através do toque, ela. toca o coração da gente que nem abraço, certeiro e quente, fazendo brotar flores-sorrisos. o problema é que o chato do tempo vive a perseguí-la e a danada, não pensa duas vezes, vive a se esconder (a alegria é tão rápida que voa!). e a gente, que nem pensa muito sobre essas coisas de tempo, até esquece que também somos tão chatos quanto ele e temos tanta dificuldade em entender que nem atrás dela precisamos ir, que é só deixar o peito e portas abertas que ela vem passear na nossa casa.

sábado, 23 de maio de 2009

invernos

tem dia que a chuva vem de dentro
é preciso esvaziar-se de inverno

quinta-feira, 7 de maio de 2009

sem pressa

irei quando o sol tocar-me o rosto e
ventar um vento bom de amanhecer dia

domingo, 19 de abril de 2009

nos últimos tempos

ando a ter maravilhamentos
por coisas e pessoas
há tanto do mundo no mundo
que me sobra no olhar
sempre um brotamento
de instante
com gosto de saudade que nem sei

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ela disse:

palavra certa tem temperatura
coisa igual de abraço, sabe
que esvazia todo o peito
para enchê-lo novamente
de vontades tantas

terça-feira, 7 de abril de 2009

segredo

nas voltas que o mundo me dá
me giro assim devagar
ora sou todo tempo
noutra espaçamento
meu desejo tem corpo e alma
ritmados
deixa na pele o gosto de manhãs
adormecidas
de um tempo ancestral
que imobiliza
fere e transborda
temporal

na pele um segredo

sábado, 4 de abril de 2009

oração de outono

minha oração é um rio que corre
doce e calmamente para o mar

sábado, 28 de março de 2009

da dor

vim com defeito de fábrica:
tenho o coração fora do peito
toda vez que esbarro ele machuca

sexta-feira, 27 de março de 2009

sentido

há tantos sóis cá dentro
mas é na noite escura
que o peito floresce

terça-feira, 24 de março de 2009

fragmento

teus olhos lembram sempre aqueles velhos faróis. no fim da tarde, quando a noite começa a ensaiar sua dança azul marinho no rito de passagem das estrelas, os vejo bem melhor. sinto uma saudade profunda e me vejo roubado pela luz. é assustadora a nitidez com que a vida me passa inteira diante dos olhos, chega a me tirar do chão. sinto um tênue fio a me segurar na beira de um abismo. arrumo sempre a desculpa boba de que estou quase a cair para segurar tua mão. isso me conforta e silencia algumas dores. mas sempre quando olhas para o lado você a solta, então eu caio em meio a vastidão do mundo, no desamparo de não ser. mesmo quando vais embora é sempre você esse peito morno onde adormeço, esse corpo que navego sem a previsão de fim. e mesmo quando a palavra falta, você sempre dá um jeito de inventar braços e viajar até o meu mundo para me abraçar.

domingo, 22 de março de 2009

dos caminhos

na despedida do rio
foi o mar quem
me disse adeus

sábado, 21 de março de 2009

pertencer

alguns precisam ser olhados
simplesmente
outros de uma loucura
qualquer

quinta-feira, 19 de março de 2009

sobre o desejo

desejo é quando minha pele com sede
quer beber água nas tuas mãos

quarta-feira, 18 de março de 2009

...

a poesia de hoje é reciclável
é feita da palavra jogada fora
dos letreiros que enfeiam a cidade
das contas que se acumulam no lixo
da poeira dos eternos dicionários
e da má educação das flores

sexta-feira, 13 de março de 2009

bem mais

a noite é pouca, eu sei
e teu olhar alcança
mais que as estrelas

segunda-feira, 9 de março de 2009

da chuva de hoje

hoje o céu chorou
não o choro triste das horas
mas o choro de encanto
de fazer flores florecer

e eu que não resisto a choro
[sou mole pra essas coisas]
corri para abraçá-lo no jardim

domingo, 8 de março de 2009

dica para os dias cinzas

e se lá fora estiver cinza
coloque uma canção bonita
daquelas de fazer o sol
por entre nuvens acordar

sábado, 7 de março de 2009

pedido

vida, corre cá.
segura a minha mão,
me leva para ver o sol.

sexta-feira, 6 de março de 2009

do sentimento do mundo

hoje me senti plataforma
trampolim para o próximo salto
pessoas vem e vão
encontram segurança
olham para os lados e depois saltam
se despedem
seguem suas ruas e mundos
de quando em vez um olhar para trás
mas é tarde, já é noite
e a vida que pede, exige
se faz presença na falta

e eu só a observar

quarta-feira, 4 de março de 2009

voz do abraço

canta, que o canto
é forma de abraçar
com a voz

segunda-feira, 2 de março de 2009

olhar

cola teu olhar com poesia
que as coisas lindas que vistes
jamais te sairão do coração

sábado, 28 de fevereiro de 2009

hoje e o sol

que dia mais cinza e friento, hoje.
o sol resolveu se cobrir com nuvens.
preguiçoso ele, tá dormindo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

salgueiro chorão

bem lá dentro do meu peito
mora um pé de salgueiro chorão
que quando é noite e me deito
chora um choro manso e triste
de chuva fina e areia
que faz as dores do mundo grande
quase sempre desaparecer

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

diálogo

tua boca na minha:
o mais perfeito
diálogo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

é bem lá, nas coisas tantas do momento
que o segundo insiste percorrer sem voz
que aprecio cada leve musicar de asa
onde a sinceridade dos sorrisos aparecem
como folhas ao vento, como abraços de mar

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

da busca

na solidão, acredite,
há tanto que dói.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

vontade jardim

ando a ter vontade jardim
daquelas que crescem
como crianças
e constituem moradas
onde eu possa
com carinho e cuidado
aproximar-me
e passar horas do dia
a tecer fios de segredos
e a dormir por entre
flores e sonhos

sábado, 7 de fevereiro de 2009

casa

na presença de uma ausência
a saudade se faz
e ela tem a cor do dia que foi
da rua que esperou
da espera que ficou

é a casa do amor

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

o mundo

o mundo é grande e largo
e eu que não sou bobo nem nada
ando a conhecer novos cantos
novos tantos tudo
que nas primeiras horas da manhã
fazem brotar as certezas
no inexato da vida

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

janeiros

janeiro me janeira sempre um novo olhar
uma idade me é acrescentada
uma vida me é sempre tirada
sobra sempre o que há de ser
o exato, mais nada

janeiros me janeiram sempre um acordar

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ao artista

sempre te vi assim,
de longe a imaginar.
adoro esses teus cabelos brancos,
e teus olhos sempre a buscar.
buscavam o que um dia irei buscar.
plantaste esse desejo em mim,
claro, sou teu filho,
pedaço pequeno a te afirmar.
e essas mãos que tanto tocou e sentiu,
ásperas amostras do tempo,
parecem agora tão cansadas.
tempo que te correu e deixou marcas,
marcas de adeus,
de inebriante presença.
aos quatro filhos deixou tua arte,
nossa arte, nossa vida.
tudo que criamos é pra ti,
não percebes?!
se aprendemos a amar é por tua culpa.
ah, doce tempo os de criança
onde nos levava aos ombros
e prometia maravilhas.
doce mundo aquele, não esqueço.
um dia viajaste, não voltaste,
assim previ.
pegou carona no sonho, no teu sonho,
e para o vento acenaste,
era o último adeus.
já era hora, e teu tempo já era fim.
teu mundo não era este,
nunca foi.
teu mundo era o céu, junto com os anjos,
ensinando-os as nuances de azul,
o azul de que tanto falavas,
que pintaste teu céu e deixaste uma amostra.
estava aqui de passagem, eu sei.
grandes coisas aprendi contigo.
me ensinaste a ver o mundo,
ser o que sou e me orgulhar,
mesmo que feio, triste e meio torto,
a vida em mim, e me encantar.
longe não estás,
inacessível muito menos.
te evoco a cada segundo,
nos sonhos meus e teus,
a cada passo e lembrança,
no meu nascer e morrer diários,
no sorriso dos que amo.

sábado, 20 de dezembro de 2008

nem me encontro

e há tanto do mundo cá dentro
que por vezes nem me encontro

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

tua hora

é de manhã, já é tua hora.

distraída a tua mão passa,
cobre o corpo quase escondido,
acorda a pele, olhos e palavras.

eu que já nem recordo mais,
acordo apenas do beijo:
curva exata. equilíbrio.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

palavras feias

nessas palavras, meu bem
não acredite
elas são palavras feias
daquelas não ditas
pausadas no tempo
perdidas no vento

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

quase

não se preocupe.
esse querer,
é só esse espaço qualquer,
essa medida de tempo
que ficou lá trás,
entre o que não foi
e a espera do sempre.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

dias assim

casa de portas e janelas abertas
e a velha rede na varanda
com seu formato de arco
parecendo até um imenso sorriso

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

... por encanto

de tempos em tempos
o mundo me parece ruim.
mas só me parece...

a verdade é que há
tantos outros mundos,
tantos outros cantos
que por encanto
cada mundo traz

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sobre a palavra

e cada palavra é a palavra viva
de cada segundo que se moveu

momento seu, momento meu.

sábado, 13 de setembro de 2008

sempre

há coisas que não necessitam
ser ditas nunca,
mas ouvidas sempre.

domingo, 24 de agosto de 2008

sobre o silêncio

muito do que mora na alma
não pode ser comunicado.
por mais que se diga, explique.
quem ouve não entende.
a surdez é evidente.

eu cá,
abrindo vazios de silêncio.

sábado, 16 de agosto de 2008

ausência

e esse frio que vem lá de dentro
é apenas essa ausência de palavras
que em algum instante de nós dois
deixamos de pronunciar...

domingo, 10 de agosto de 2008

sobre a solidão

solidão é esse ar
amargo e seco
que entra nos pulmões
reclamando espaço

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

sobre o despertar

porque acordar
é ainda
melhor que dormir!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

sobre a música

mas a música é o som
que aprendeu a dançar

sábado, 26 de julho de 2008

26 de julho

às vezes o vento parece
que me tira a alma
de tanto soprar

domingo, 20 de abril de 2008

vestígios

e os dias
passam devagar.
na pele
ainda a lembrança
do abraço.
na boca o beijo
corrido.
vestígios
sem provas.

só os vestígios
fazem sonhar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

ar

hoje lavei os lençois
lavei sonhos
e dissertações
deixei algumas coisas de lado
abri o peito e janelas
e deixei o ar entrar

sábado, 15 de dezembro de 2007

momentos

hoje o céu ficou nublado
mas depois abriu o maior sol.

tenho de voltar

a vida corre, eu corro
corro da vida
e ela me olha de longe
e meio sem entender...
paro e digo a mim mesmo:
tenho de voltar!

sábado, 17 de novembro de 2007

pingo a pingo

que se encanta com chuva
pingo a pingo
instante ser
vem cá chuva mansa
lava minha alma
minha terra
leva embora o que não sou

domingo, 11 de novembro de 2007

hoje

hoje eu acordei saudade
daquelas que se sente sentido
daquelas que percorre
as vias do corpo
e sobe à cabeça
daquelas que dizem
que tempo passa correndo
e o que mais importa
é não deixar aquele
velho sorriso no bolso
mas mostrá-lo
a cada segundo

sábado, 20 de outubro de 2007

do que passou

quando voltarem as luzes
vou abrir bem os olhos
e guardar cada cor
antes não vista
colocarei uma a uma em
minha caixa de retratos
como quem coloca doce
e calmamente
alguém para dormir
de tempos em tempos
quando o mundo se acabar
abrirei a minha caixa
devagar e atrevido
e dela tirarei sorrisos
lembrança das lembranças
do que passou

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

janela do mundo

quando olho pela janela do mundo
a vida incerta me intercepta
versos avessos aparecem
e o passado que passeia sempre
de presente nas mãos
me vem sempre visitar
com aquele cheiro de querer
mais que querer
mas com gosto ainda meio amargo
de sem resposta para o fim

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

eu sei

que a vida é breve, eu sei
que teus versos são moradas
também sei
sei também que quando me olhas
com todos os teus olhos
me diz sempre o exato
a medida certa
e que quando me abraça
são tantos braços que cobrem
que a noite fria nem percebo
e ainda sei que teu sorriso
combina com o meu
e que são sempre mais bonitos
quando juntos estamos
e além de tudo, ainda sei
que quando está ausente
muito do mundo se desfaz
se perde numa saudade
de uma linha do tempo
de um vento que passou
e eu nem vi

sexta-feira, 27 de julho de 2007

estantes & instantes

entre estantes e instantes
passo a vida a percorrer
cantos, encantos
de outros tantos lugares

sonho é coisa do céu
deixa a gente bobo e bambo
faz brotar sorriso manso
e dança nos pés

é aquela voz que diz baixinho
que a vida não passa,
que a vida desfila
e os olhos olhares
que tanto temos
muda a cada segundo de cor

terça-feira, 3 de julho de 2007

na ausência

e na ausência do canto
passo o dia a escrever
nas folhas que o vento
leva e trás
nas paredes brancas
de espanto
no chão das coisas
pequenas

quase esquecidas

terça-feira, 26 de junho de 2007

cada verso

cada verso
é palavra viva
que teu beijo
percorreu
em mim

sexta-feira, 22 de junho de 2007

de sol em sol

de sol em sol faço meus dias
dias claros lembram
que a vida pode e deve ser
aquele sentir gostoso
de desejos bons
que completam
cada segundo de ausência
e saudade tanta

no olhar

jóia verdadeira
é aquela que brilha
doce e intensa
no olhar daquele
que nunca esquece
o que é amar

quarta-feira, 6 de junho de 2007

sobre um sorriso

menina do sorriso de frases poéticas
que encanta, que balança
sorriso de mistério
segredo da própria vida
sorriso de beleza
marca que deixa, que fica
mas que poucos percebem

sorriso de linhas tranqüilas
que contornam o céu
no infinito azul da alma
traz a calma
traz a paz
traz a música da vida

sorriso simples
tingido de sol
de presença quente e forte
sorriso doce e meigo de criança
que sem saber
já desvendou o grande mistério da vida

sorriso ardente de mulher
que enrubesce a face
revelando a cor do desejo

sorriso de graça
de alegria
de amor
amor da espera
amor da procura
da fantasia de acreditar
que ainda exista um começo, meio e fim

sábado, 26 de maio de 2007

jasmim

bem lá perto donde eu moro
tem um pé de jasmim-manga que
roseia um amarelo o ano inteiro

quinta-feira, 24 de maio de 2007

chuva mansa

hoje a chuva que cai mansa
lembra aquele teu sorriso

aquele dos dias brancos
que faz o resto do mundo
nem aparecer

segunda-feira, 21 de maio de 2007

sobre o criar

é no instante de um segundo
que a sombra pálida do ser
encontra a confusão
e se torna essência,
objeto único e ponto principal.

linhas e traços se entrecruzam,
encontram-se do início ao fim.
laços se cortam
para no momento seguinte envolver-se.
manchas se contorcem,
transformam-se em morada:
de cores, sons, movimento, sonhos.

lápis na mão e a possibilidade
de uma diferente criação.
cria-se a luz.
abre-se a cortina.
estende-se a mão.
mostra-se a vida.
transitória vida,
que no intercurso do vir-a-ser
encontra seu eterno viver.

terça-feira, 15 de maio de 2007

as que pousam

algumas palavras voam
fogem de serem ditas
mas sempre acabam pousando
nos lábios de algum sonhador

segunda-feira, 7 de maio de 2007

das horas

busco cada segundo
mas as horas insistem
em dizer
que tempo nem se busca
tempo é coisa que se passa bem passado
a ferro quente e à brasa
e que às vezes se dá bem embrulhado
de presente
nas datas de bem querer

mas o que as horas não dizem
e nem sabem
e eu também não
são das coisas do segundo próximo
as que futuram o instante
e escondem o que irá acontecer

terça-feira, 1 de maio de 2007

bom é...

bom é cair nos laços
dos braços
do teu abraço!

terça-feira, 24 de abril de 2007

mudança

as coisas mudam
com o tempo
mudamos
as coisas
que mudam
com o tempo
mudando

domingo, 22 de abril de 2007

desde agora

tudo é tão corrido
toda hora
tudo é tão preciso
desde agora

não se pára um instante
nem mesmo no que
o instante pára

domingo, 15 de abril de 2007

não tinha

eu realmente não tinha...
eu não tinha esse peito apertado
esses ombros perdidos
esses passos no chão

eu tinha o espaço
o infinito arco azul
as estrelas na mão

hoje sobrou esses olhos
que me entregam
e me afastam
e revelam o sorriso que não dei.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

inventando ser sol

de noite bem de noite,
pensei ter visto
uma estrela cadente.
mas nem era,
era só um vaga-lume
que cortava a noite
inventando ser sol.

terça-feira, 10 de abril de 2007

de repente

e de repente o mundo parou
vi estacionar" as estações

quem foi que desparafusou
as engrenagens do tempo
e por um segundo fez
eternizar o momento?!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

a morada

foi bem alí, lembra?!
nas esquinas do teu mundo
perto das curvas do teu cheiro
e o toque da tua voz
que essas loucas linhas
de meus lábios
quiseram morar

segunda-feira, 2 de abril de 2007

pra poder sonhar

Nossos sonhos, nossas vidas se igualam, se confundem como essência e solução. Deixar pra trás o que passou e perceber a vida com os olhos do presente (olhos de criança) é o que importa. Perceber cores, sons, sensações como se fossem a primeira vez... Lembram como era?? Parece que viver tem algo haver com belos sonhos e entusiasmo para realizá-los. E quando criança sonhamos, bem mais que agora. Não sei, mas acho que é isso! Parece que não importa onde estamos, quem somos, ou mesmo nossa idade, o que importa é que precisamos sonhar! Dizem que a vida não tem idade para começar, e quem sabe, ela não comece a partir do momento em que sonhamos!? Quem sabe... Dizem que tudo é reencontro, se for, é uma esperança aos que ainda não sonham!! Que tal reencontrar um sonho antigo!! Ah, só pra lembrar, não importa qual seja, pois dentro de cada sonho, mesmo que banal, esconde-se um fato extraordinário. “Livre pra poder sonhar”, livre pra poder viver, livre pra poder encontrar o que tanto procuramos, essa paz que até em sonhos nos visita e com seu ardor nos toca e nos comove, nos dá esse gostinho, esse pedaço do céu (parede da casa de Deus) que é bom e não acaba, insiste em ser pra sempre!!

sexta-feira, 30 de março de 2007

n.

olhos que brincam
que desviam
que denunciam
que procuram saber

sorriso fácil – de entrega
expressão permanente e curiosa
sincera
quer entender

mistério no dizer:
não fala de si
fala do mundo

mudança de tempo
de lugar
revela alegria

diz que quer voltar
mas não sabe, não entende
que cada passo tem sua beleza
e cada beleza tem seu preço

o que guarda não sei
o que exprime é fantasia
o que fica é a intenção
expressão de um quase que...

terça-feira, 27 de março de 2007

bicho estranho

a saudade é um bicho estranho que
vive a morder o coração da gente.

sábado, 24 de março de 2007

te procuro

te procuro nas lembranças
reviro as gavetas, as nuvens
te busco nos bolsos, nos livros
canções, luas, janelas
lembranças soltas
no sorriso que deixou
nas palavras que escreveu
no perfume que ficou
na mão que me tocou
até me confundo
imagino loucuras
dou voltas e voltas
quase esqueço
desconheço
sempre em vão.

quinta-feira, 22 de março de 2007

ser mar


mas eu só queria que chovesse
pra eu me juntar com os pingos
e de mãos dadas brincar de ser mar

terça-feira, 20 de março de 2007

nem digo

e eu morro mas nem digo
me escondo atrás da porta
e lá me esqueço
não desejo
não me vejo
e quando então me perguntar
onde anda o amor
direi apenas que não se foi
apenas adormeceu
no tempo
no ar
debaixo da cama
dentro do travesseiro.

segunda-feira, 19 de março de 2007

sorrir


sorrir é acordar do vazio

encontro

Outro dia tive um encontro com Quintana. Quintana e seus cantares, ou melhor, quintanares como diria Manuel Bandeira. Um homem calmo... de tantos olhares como de tantas vidas... dizia-me que “seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada inútil das horas...”

Andei a seu lado naquele breve caminho. Tentei enxergar além, pois era além que este velho homem enxergava. Homem que via nas coisas simples do chão o motivo de sua poesia. Contava-me sobre um trem, o trem da vida, que nele se deixa chegar e partir. Para ele, “não havia nada mais triste do que o grito de um trem no silêncio noturno”, o trem vida e sua solidão. Última espécie do que é humano. Como as coisas mudam, dizia ele, e como hoje a solidão parece ser um membro da família, “possui até uma cadeira à mesa”.

Falou de si, o que raramente se dava por fazer, e do retrato que fazia, traço a traço, onde “às vezes se pintava em nuvem, às vezes se pintava em árvore...” mas que foi na palavra que fez seu auto-retrato perfeito. No construir da poesia, contou-me do instante, “o poema é um objeto súbito”, não se pode construí-lo, ele já vem pronto. E que ser poeta é “sair à rua como quem foge de casa”, é ver à frente “todos os caminhos do mundo... não importando os compromissos, as obrigações...” é estar de “alma aberta e coração cantando”. Ser poeta é nascer poeta, é encontrar na poesia a louca e trágica solução para o existir.

Durante um tempo fiquei pensando em suas palavras... que numa simplicidade gritante, transportava-me a tudo o que sempre um dia sonhei ter. Pensei que as coisas eram por natureza complicadas. Este homem ensinou-me que as coisas podem ser simples, e que simples é o caminho e os passos para alcançá-lo.

de uma saudade


hoje acordei pequeno
peito aberto, criança
vontade de correr na rua
segurar o vento
assoviar para a menina
cantar para a chuva
e não ter pensamentos
apenas segurar o tempo
aquele de um abraço
um laço
em meus braços
a lembrança da saudade
de uma saudade.

eu que

eu que desejo encontro
apenas sonho
com o instante
imprevisto

eu que nunca nada quis
hoje tenho
e me transborda

corrente prosa

hoje, somente hoje serei diferente* hoje escreverei limpo, nem poesia, nem cantar* lavarei meus versos com água e sabão, pendurarei no varal e os deixarei secar ao sol e vento* e mais tarde de tardinha, quando o sol tiver se posto recolherei a todos* passarei cada canto de letra: as pernas dos pês e dos quês, o início dos ás e a distância infinita dos zês* por último e sem me demorar, tirarei os pontos e seu findar, e colocarei estrelas em seu lugar* e numa conversa toda nossa, colocarei os versos lado a lado* pedirei então baixinho, que segurem as mãos de seu vizinho, e se transformem numa doce corrente prosa*

coisas do chão

e ele que sempre foi de olhar para o céu
de encontrar uns trecos em nuvens
e viajar na linha azul do vento
acabou por aprender
que eram nas coisas do chão
que existia tudo aquilo
que sempre procurou
que um dia imaginou
e nos sonhos encontrou