segunda-feira, 19 de março de 2007

encontro

Outro dia tive um encontro com Quintana. Quintana e seus cantares, ou melhor, quintanares como diria Manuel Bandeira. Um homem calmo... de tantos olhares como de tantas vidas... dizia-me que “seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada inútil das horas...”

Andei a seu lado naquele breve caminho. Tentei enxergar além, pois era além que este velho homem enxergava. Homem que via nas coisas simples do chão o motivo de sua poesia. Contava-me sobre um trem, o trem da vida, que nele se deixa chegar e partir. Para ele, “não havia nada mais triste do que o grito de um trem no silêncio noturno”, o trem vida e sua solidão. Última espécie do que é humano. Como as coisas mudam, dizia ele, e como hoje a solidão parece ser um membro da família, “possui até uma cadeira à mesa”.

Falou de si, o que raramente se dava por fazer, e do retrato que fazia, traço a traço, onde “às vezes se pintava em nuvem, às vezes se pintava em árvore...” mas que foi na palavra que fez seu auto-retrato perfeito. No construir da poesia, contou-me do instante, “o poema é um objeto súbito”, não se pode construí-lo, ele já vem pronto. E que ser poeta é “sair à rua como quem foge de casa”, é ver à frente “todos os caminhos do mundo... não importando os compromissos, as obrigações...” é estar de “alma aberta e coração cantando”. Ser poeta é nascer poeta, é encontrar na poesia a louca e trágica solução para o existir.

Durante um tempo fiquei pensando em suas palavras... que numa simplicidade gritante, transportava-me a tudo o que sempre um dia sonhei ter. Pensei que as coisas eram por natureza complicadas. Este homem ensinou-me que as coisas podem ser simples, e que simples é o caminho e os passos para alcançá-lo.

Um comentário:

Dani Santos disse...

Palavras e vida que emocionam e fazem pensar... fazem sorrir com o coração cheio de uma magia leve... de um olhar calmo e macio que tuas palavras me trazem... as coisas simples... simples e intensas... como umcheiro da infância, umabraço, uma mão estendida ou simplesmente umapalavra que se junta a outra, num baile de palavras-abraços, sem demora, sem delírio...mágicas, apenas.
Abraços cheio de levezas pra ti, ò moço das palavras mais belas e de sonhos maislindos...